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Nó Cego e Bengala de Cego

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

C I N Z A S



Após anos vividos o que resta...

A pirâmide que se esfarela
A sola do sapato que já se aposentou
O grão de areia da ampulheta que não vaza mais
O grande amor que se esvaiu
O mar que não consegue banhar a praia
O navio que parte e se esconde atrás das águas do oceano
O cantar do pássaro interrompido por uma pedrada ou tiro
A porteira arriada pelos anos sob o sol e a chuva
A flor tombada e murcha
A mão estendida sem que ninguém a pegue
O joelho que não se dobra mais
Os dedos que não seguram nem um simples lápis
A concha de retalhos esfarelada
A voz que ninguém mais escuta
O perfume que perdeu o cheirinho agradável
O cacho de bananas que só resta o umbigo
A folha ocre da bananeira
O vento que não faz a curva
A amizade que acabou
A careca que era coberta de lindos cabelos
A pele outrora lisa e aveludada que virou maracujá maduro
O balanço feito de corda que perdeu um dos lados
Um violão sem sua alma (cordas)
A jabulani que furou e murchou
Uma revista de palavras cruzadas já preenchida
Um livro com suas folhas em branco
Uma biblia sem as palavras de Deus
A caneta esferográfica que acabou a tinta
Um vaso sujo que não tem água para limpá-lo
Um fogão cujas bocas não mais se acende
Um carro que perdeu as rodas
Um BBB sem a Fran
Um órfão de pai e mãe
Ponteiros de relógio travados
Um vinho que virou vinagre
Um dedo de tão magro que o anel se mandou
Um esqueleto de chapéu de chuva
Um guindaste que nem viagra levanta
Um calo que tomou conta dos dedos
Uma vassoura sem seus cabelos
Uma casa sem telhado
Um cadeado cuja chave abandonou
Uma rua defícil de atravessar
Um churrasco que só se pode olhar
Uma 51 cujo sabor só tem o 1
Um sorriso que amarelou
...

Acyr Gomes




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