Sou de uma geração que foi criada levando surras dos pais. Lembro que todos da minha rua apanhavam de seus pais; lá em casa era de cinto, mas tinha os que apanhavam de borracha, de tamanco, de chinelo e por aí vai.Crescemos assim; e dos que tive contato até a fase adulta,nenhum virou bandido; muito pelo contrário, formaram-se engenheiros, médicos, professores, químicos, militares,...homens de bem e com um fator em comum, todos tinham um imenso amor pelos seus pais, tanto que nessa velhas lembranças recordo que cuidaram deles na velhice sem mágoas e ressentimentos.
O que posso falar sobre mim e meu irmão é que as marcas das cintadas logo desapareciam e nunca ficou marcada em nossos corações. Lembro da minha última surra, eu tinha 14 anos e menti para minha mãe dizendo que ia na casa da filha de nossa ex-babá e fui pra praia.Quando cheguei da praia meu irmão que estava na rua me avisou: a mamãe vai te pegar.Corri pra casa da minha avó e meu avô foi logo me dizendo:
-Guria tua mãe vai te bater.
Vô vamos comigo, pedi eu.E lá foi ele comigo, gordinho, baixinho, lindo de morrer.Minha mãe já estava a postos; com o cinto nas mãos.Meu avô entrou primeiro e eu atrás dele fazendo ele de escudo. Só ouvi minha mãe dizer:
-Sai da frente seu Daniel e ele responder:
-Calma Maria, não batas na guria.
Minha mãe não pensou duas vezes e mandou a cinta, uma, duas, três, ...Eu só me esquivando por trás do meu avô; se ela mandava pela esquerda eu ia pra direita e vice-versa; conclusão quem apanhou foi meu avô; meu doce e querido avô Daniel.
Nessas velhas lembranças lembro das inúmeras vezes em que eu e meu irmão, sempre que em nossas conversas lembrávamos de nossa surras e os motivos das mesmas, dávamos muita risada.
Mãe não sei se um dia ainda vamos nos encontrar para eu poder te dizer que as tuas surras nunca marcou a minha alma e nunca diminuiu o amor , respeito e admiração que eu e meu irmão temos por você.
PS: relato de Malu...que acordou com saudades da mãe...
E eu pergunto porque algumas surras revoltam e deixam sequelas e outras não?..creio que o amor de quem pune deve fazer a diferença...Sou totalmente contra qlq tipo de agressão...mas o relato de malu me sensibilizou.